Conheça as armadilhas das boas pagadoras de dividendos

Quem explica é a comentarista Neyla Tardin

Publicado em 07/10/2022 às 11h44
Sala de Operações Armínio Fraga Neto, da B3, a bolsa de valores brasileira
Sala de Operações Armínio Fraga Neto, da B3, a bolsa de valores brasileira. Crédito: B3/Divulgação

Vale, Petrobras, Itaú, Banco do Brasil, Taesa. O que ações dessas companhias têm em comum? São papéis bons pagadores de dividendos. Dividendos são pedaços do lucro líquido que a companhia distribui conforme um calendário de pagamentos conhecido pelo mercado. O investidor que compra esse tipo de ações recebe um caixa, depositado em conta corrente, livre de imposto de renda, de vez em quando. O dividend yield esperado da Petrobras (PETR4, papel preferencial, a preço de hoje), por exemplo está em 32%. Ou seja, 32% do que você pagar pela ação da companhia será revertido em caixa para você, durante o ano, em forma de dividendo esperado, caso você não venda a ação nesse meio tempo.

Há investidores e investidores: tem gente que gosta muito de dividendo. Quando o dividendo cai na conta, a sensação é boa, é como achar uma nota alta perdida no bolso da calça. Quem gosta de dividendo abre mão, temporariamente, do ganho de capital (diferença entre o preço de venda e compra no tempo). No Brasil, além dos dividendos, há empresas que optam por distribuir a figura do JCP (juro sobre o capital próprio). Para o investidor, essa opção é tributada na fonte, a uma alíquota de 15% sobre o valor. Por enquanto, no Brasil, embora haja um projeto tramitando no Congresso sobre isso, não há imposto sobre dividendos.

Aqui, a proposta é discutir algumas armadilhas que a política de dividendos pode trazer. O dividendo é uma renda passiva e previsível para o investidor, por isso atrai tanto interesse. Os pesquisadores e professores Felipe Pontes e Orleans Martins lançaram, recentemente, o livro “O Investidor em Ações de Dividendos”, que sumariza achados empíricos da academia sobre os efeitos das políticas de dividendos das firmas, passando pela identificação de carteiras de dividendos que possam ser mais rentáveis do que outras.

Com ajuda do Orleans e do Felipe, enumero aqui duas armadilhas para quem vai escolher boas pagadoras de dividendos:

Armadilha dos dividend yields mais altos.

Cuidado com isso. Essa taxa pode ser alta porque houve um choque negativo no preço da ação, levando o investidor a crer que o desembolso da firma será maior. Não necessariamente. O preço caiu (e você comprou mais caro antes). E se o choque for temporário, haverá reversão à média, e o yield retornará ao patamar mais baixo esperado.

Mas pode ser que o preço não tenha caído, e o dividendo tenha de fato subido. Muitas boas pagadoras de dividendos o estão fazendo porque não tem um plano de expansão ou de crescimento sustentável. A Souza Cruz, fábrica de cigarros, é um exemplo clássico. Essa empresa já teve payout superior a 100%, ou seja, distribuiu aos acionistas mais do que o valor do próprio lucro. Mas é um negócio já maduro, que cresceu muito durante décadas, mas depois estagnou, crescendo hoje timidamente em nichos (cigarros com sabor, etc.).

Armadilha da governança corporativa ruim

A Smiles é o programa de milhagem da Gol, e também é uma empresa negociada em bolsa. Em 2021, a Smiles pagou R$ 4 por ação em dividendos. Durante algum tempo, a Gol fez pressão sobre sua controlada para fechar o capital dela e acabou forçando políticas de vendas de milhas pela Smiles para inflar o caixa da controladora. Má governança pode reduzir a performance de boas pagadoras de dividendos no tempo.

Por fim, comprar um papel negociado em bolsa requer estudo prévio do negócio e visão de longo prazo. Sempre. Esta é a análise da nossa comentarista Neyla Tardin.